Uma procissão sem fim...
- Gustavo Tomaz
- 26 de jul. de 2015
- 5 min de leitura

Um dia de cão!
A partir do momento que decidimos fazer uma pesquisa sobre o Capão Redondo sabíamos que teríamos de nos aprofundar em todas as vielas, ruas, avenidas e cruzamentos que aqui existem. Em determinado dia seguimos em uma sessão de fotos pelo bairro, subimos e descemos por vários lugares, quando passamos em frente ao departamento policial do Pq. Santo Antônio, vulgo “DP 92”, vimos que ele estava fechado (O dia em questão era feriado), achamos aquilo muito estranho. Uma delegacia fechada? Decidimos averiguar.
Quando desci para chegar à porta para ver se tinha alguém por lá e fui quase atacado por dois cachorros, que até então pareciam ser apenas cães de rua, dormindo em frente ao departamento policial. Eu claramente me enganei. Voltei correndo que nem um doido, morrendo de medo de ser mordido. Enquanto isso Neviton estava praticamente caído no cão de tanto gargalhar da minha cara, já a Júlia... Essa já estava há uns dois metros, ou mais, correndo dos animas e rindo ao mesmo tempo. Quando cheguei a uma distância considerada segura, ainda abalado e conciliando o riso, percebi que aqueles cães foram treinados para aquilo. Não eram simples cachorros de rua, eram “vira-latas policiais”.
A partir daquele momento decidimos que íamos buscar o relato da polícia. Escrevemos uma lista de perguntas. Algum tempo depois, voltamos lá, passamos pelos cachorros, que nada fizeram. Fomos ao balcão e lá falamos de nosso trabalho, e que queríamos depoimentos da polícia, eles nos encaminharam a sala de uma senhora (Não me lembro qual era seu cargo exatamente), lá ela nos informou que o delegado titular não se encontrava e pediu que aguardássemos.
Quando o delegado chegou nos olhou de cima a baixo, nos cumprimentou e foi para sua sala. Fui até lá, depois de esperar alguns minutos achando que ele voltaria para nos atender, pois já estava avisado sobre nossa presença e nosso objetivo. Quando entrei, expliquei quem éramos e falei (Novamente) qual era o motivo pelo qual estávamos lá. O delegado disse que outro senhor iria falar com a gente. Para resumir ficamos em um jogo de Pingue-pongue desgraçado.
Pontos importantes: Não fomos atendidos por nenhum dos dois senhores. Eles nos disseram que não gravariam entrevistas, nem em vídeo ou áudio, e também não quiseram que transferíssemos as respostas por escrito. Disseram que preferiam não falar pois estavam ocupados, o delegado titular ainda nos deu a desculpa de estar ali há pouco tempo, e disse que hoje em dia um policial não pode falar mais nada, pois as pessoas distorcem suas palavras. Falou meio que de uma forma desafiadora (Pelo menos no meu ponto de vista) que voltássemos no dia seguinte, pois outro delegado, que já estava ali há mais anos poderia nos atender. Sai dali indignado e inconformado.
Observações:
O delegado titular, na segunda vez que entrei em sua sala, não estava trabalhando e sim assistindo ao Vídeo Show, quando viu que entrei em seu enorme escritório, com frigobar e outras coisinhas mais, logo fez, o favor de desligar a sua enorme televisão de LCD ou Plasma, sei lá o nome daquilo. Em seguida, a faxineira veio lhe trazer uma entrega, um conjunto de louças para chá de porcelana (Também não tenho certeza), ele pediu para que ela os lavasse, para ele deixá-los ali, para quando recebesse suas visitas.
Referente à delegacia fechada, nos disseram que ela estava “apenas de portas fechadas”, porém, haviam policiais lá dentro. – Sabemos que sim.
Voltamos no dia seguinte, novamente não fomos atendidos, dessa vez quiseram nos empurrar outro policial para a entrevista, mas ele estava em horário de almoço, e cansados daquele vai e vem (Uma humilhação de certa forma) desistimos dali.
No dia seguinte o delegado titular também estava assistindo ao Vídeo Show, e ele não nos ofereceu chá.
Uma procissão sem fim...
No mesmo dia em que não fomos atendidos na DP 92 pela primeira vez, decidimos por ideia do Wesley ir à DP 47. Essa sim é responsabilizada pelo Capão Redondo. E lá fomos nós a pé, no que mais parecia uma procissão sem fim.
Depois que saímos do Pq. Santo Antônio e subimos toda aquela avenida do Capão, chegamos à DP 37, achávamos que lá conseguiríamos algo, mas novamente entramos no jogo de Pingue-Pongue, fomos melhores atendidos lá, mas também não conseguimos nada, dessa vez nos disseram que eles não poderiam falar conosco sem a autorização da Secretaria de Segurança Pública, e que deveríamos emitir um ofício. Lá também ouvimos merdas a mil, mas nos mantemos calmos, não poderíamos reclamar apenas porque eles falavam as coisas com uma mediocridade do senso comum incrível, sem dar o devido valor para a velha e boa ironia.
Saímos de lá e fomos para DP 47, já estávamos cansados, com raiva e só queríamos acabar com tudo aquilo de uma vez, fizemos todo o esquema inicial, fomos encaminhados para uma sala e de lá fomos direto para sala do delegado titular (Esse sim estava trabalhando). Fomos bem recebidos e conseguimos finalmente nossa entrevista.
O Dr. Valter nos contou suas experiências, os índices criminais – Que segundo ele caíram –, as coisas de que ele gosta e não gosta na região. O resultado da entrevista vocês veem na íntegra a baixo.
Entrevistado dia 04/05/15.
Entrevista com o delegado titular da DP 47 do Capão Redondo. Dr. Valter Bassoli Carvalho. 1- O senhor acha que as pessoas têm um olhar distorcido sobre a polícia?
"O olhar distorcido aparece para aqueles que não seguem os deveres necessários (Deveres constitucionais) e quando são repreendidos não gostam". 2- Por que a população não acredita na polícia?
"É preciso rever os assuntos que estão errados, para que se possa satisfazer-se a todos os dependentes, para que a população acredite nos policiais". 3- É válida a lei que aumenta a pena de quem assassina, ou agride seriamente um policial?
(Uma leve pausa...) "É válida sim, porque faz com que o marginal repense o ato antes de fazê-lo". 4- E quando o erro é do policial (Um policial agride ou assassina um civil)?
"Já existe a lei de abuso do poder, acho que ela é boa". 5- O senhor acredita que a lei vale para todos?
"A lei vale para todos, a diferença está na hora da defesa". 6- O que o senhor pensa sobre as brechas nos julgamentos?
"As brechas deveriam ter menos recursos, cumprir o que se deve e pronto". 7- A polícia precisa mudar?
"A população precisa se dar mais respeito, mudar muitos conceitos. Não é mudar só a polícia, mas todos". 8- Ao que se deve o aumento da criminalidade?
"O bandido não tem mais medo da polícia, o ser humano só comete um ato errado quando acredita que nada vai lhe acontecer. De qualquer forma é necessário que as pessoas tenham medo sim, porque a lei precisa ser bem aplicada". 9- Qual é a sua opinião sobre a maioridade penal?
"O menor que comete crimes é cruel e age como um criminoso adulto. Ele precisa ser preso, mas trabalhando, tem que estudar e refletir seu crime. Sair de lá com um outro caminho". 10- Mas e a entrada de materiais inadequados nos presídios?
"É preciso ter um presídio adequado para melhores revistas. Fica impossível se revistar um presídio inteiro quando a população carcerária é maior que o limite que ela pode abrigar". 11- O que o senhor mudaria no Capão Redondo?
"Mudaria os valores que estão sendo deixados de lado, as pessoas nos relatam coisas horríveis que acontecem principalmente nesses tais de Pancadões, eu nunca fui em um mais dizem que já houveram casos até de sexo explícito na rua". 12- O que o senhor preservaria no Capão?
"As escolas e as casas culturais, são muito boas e ajudam muito a comunidade". 13- O senhor acha que somos um lugar largado pelo Estado?
"Não, nós não somos um lugar largado pelo Estado. Pelo contrário o estado age bastante aqui.
14- O que o senhor espera para o Brasil?
“Somos um bom país, mas precisamos evoluir”.

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