Uma fonte inspiradora

Quando decidimos sair, com a cara e a coragem para conseguir entrevistas para o projeto nunca imaginaríamos que teria sido tão fácil nos aproximarmos de Tia Dag. Uma pedagoga ou melhor um ser humano (como gosta de deixar bem claro) impressionante.

Quando a vimos entrar pela porta com seu ar sério e ao mesmo tempo sereno, nos caiu a ficha de que aquela entrevista seria especial. E foi.

Percebemos como é uma pessoa adorada pelos zezinhos. Ali não se deve usar a palavra funcionário, naquele lugar todos fazem parte de uma grande família que se ama muito. Todos são zezinhos.

Com origem das ações educacionais que Dagmar Rivieri Garroux tem desde os anos 70, a Casa do Zezinho evoluiu muito. De apenas 7 crianças que estudavam na residência da pedagoga para mais de 1.200 pessoas entre jovens e adultos. Agora todos juntos em uma grande casa.

Tia Dag deixa bem claro que é uma pessoa inconformada com o sistema educacional brasileiro mais claro ainda é sua exigência com o presente. Ela não gosta da palavra “queria”, para ela o que vale é o “quero”. Sua mente não para um segundo; enquanto nos explicava como funcionava a Casa do Zezinho ela contava histórias, corrigia o entrevistador e ainda conseguia brincar.

Agora ela está focada em uma coisa. Erradicar as favelas sem tirar as pessoas dos lugares onde moram a partir da permacultura. Conhecedora do ser humano Tia Dag é amiga de todos, uma mãe de todos porquê não dizer assim. Nos deu naquele dia uma lição de vida em menos de 40 minutos. Tia Dag é o exemplo de quem não acha nada. Ela faz. Para ela toda barreira que aparece são desafios pelos quais se deve passar para conseguir o que se quer.

Eu tenho um sonho por segundo!

Fundada em 1.994 atualmente a Casa do Zezinho move 12 milhões de reais por ano. Isso tudo com a ajuda de parceiros (Setor privado, doações, o bazar Santo Zé e o artesanato produzido dentro da Casa do Zezinho).

Para Dagmar (Tia Dag) o motivo pelo qual a ideia deu tão certo é o dom que esse lugar tem para ouvir as reivindicações do ser humano e do bairro; um exemplo disso são as Marias Zezinho, projeto idealizado dentro da associação onde senhoras e jovens trocam experiências e ensinam coisas novas uns para os outros.

Com 61 anos essa mulher tem ainda o mesmo pique daquela menina que aos 14 anos de idade começou a atuar em áreas sociais. Perguntada sobre a função de educar da Casa do Zezinho Tia Dag diz que a instituição não veio para educar ninguém, mas sim para ser educada. Com orgulho ela ainda nos conta sobre os vários zezinhos espalhados pelo mundo e destaca com alegria o poder que já não tem mais sobre a pedagogia do arco-íris (método de aprendizagem que criou) que se espalhou pelo Brasil como um vírus do bem.

Indagada a respeito do descaso com a periferia ela fala que não só periferia mais muitos lugares no Brasil inteiro ainda são esquecidos pelo estado, e que ao andar por aí ainda vê muitos locais sem luz elétrica, sem um bom posto de saúde ou escola.

Uma vez me perguntaram: Qual é teu sonho Tia Dag? Eu respondi: – Meu sonho é que um dia todo ser humano tenha direitos iguais.

Tia Dag nessa entrevista nos mostra seu amor pelas pessoas e pelo lugar onde mora e trabalha. Para ela onde tem gente é bom.

Questionada sobre a política no Brasil ela é sincera ao dizer que as pessoas têm os políticos que merecem e que não adianta quebrar as coisas, mas sim votar correto e cobrar dos políticos eleitos aquilo que eles disseram que iam fazer.

Quando perguntamos se ela mudaria alguma coisa no Capão Redondo ela é categórica, conta que queria mais aparelhos culturais dentro do bairro. Um em cada quarteirão.

Ao final da entrevista enquanto vai se retirando da sala ela nos deixa seu último recado.

– Tchau moçada. Jovens são o futuro do Brasil, com ação.

A história da Casa do Zezinho e de Tia Dag se cruzam com a do Capão Redondo. Essa casa é apenas mais um motivo pelo qual sabemos que devemos olhar para o passado para construir futuros. Há 21 anos esse lugar é educado pela favela.