Juventude e resistência
- Júlia Araújo e Gustavo Tomaz
- 26 de jul. de 2015
- 4 min de leitura

Comitê juventude e resistência, exatamente no dia 30 de maio soubemos que iria acontecer uma audiência pública pela vida dos jovens periféricos, no Cemitério São Luís (Cemitério esse que é o que abriga mais jovens, enterrados e desovados na América Latina). Com a presença do Prefeito Fernando Haddad, de seus secretários, entre eles Eduardo Suplicy, além do subprefeito do Campo Limpo.
Esses estavam lá para ouvir os casos diretamente relatados pelos moradores da região, as autoridades se mantiveram na plateia, enquanto os moradores acendiam no palco seus anseios. Lá estavam alguns representantes da comunidade e movimentos sociais: Mães de Maio, CIEJA, Padre Jaime, Pavilhão Nove, além dos jovens, os moradores e coletivos dos bairros. Foram feitas as leituras das cartas contendo os apelos feitos pelos jovens, e pelos pais de outros jovens que foram assassinados pela violência policial na região, que reivindicavam a justiça (Alguns já em estado de desespero).
Por mais diferentes que fossem, os motivos pelos quais os levaram para o comitê, foram os mesmos, a busca pelos seus direitos, as desilusões, o cansaço imposto pela violência e a desigualdade gritante com que vivem todos os dias. Foram relatos e opiniões muito calorosas, que nos emocionaram demais; o mais feliz foi ver a população ali presente, gente de todas as faixas etárias; unidas.
Hoje a luta pela igualdade ganha uma abertura maior com a ajuda da internet, mas é a fala direta que faz com que tudo aconteça, ainda não está tão boa assim. Precisa-se aprender a ouvir o que cada um tem a dizer, respeitar as opiniões, por mais que sejam diferentes. Nós fizemos isso, paramos muito para ouvir opiniões, ouvir aqueles que lutam todos os dias por coisas tão simples, pedidos simples, mas que fariam há total diferença.
Apesar disso muitos se deixam levar e incorporam o papel de vítima. A questão é: “Somos vítimas do Estado sim, porém, isso não nos obriga a vestir essa roupa, que eles nos impõem, as pessoas se estagnam, muitos vestem essa roupa e por isso eles mesmos se marginalizam ainda mais do que já são; se subjugam demais para poder ver que no final das contas eles estão sendo jogados uns contra os outros”.
O que há muito tempo falamos com as pessoas que nós encontramos é: “Já temos tão pouco. O que custa cuidar do pouco que se tem? ”.
Devemos ir em busca do que queremos, mas valorizando tudo de bom que temos aqui. Como? Valorizando nosso meio de convívio. Não espalhe lixo, espalhe cultura. Alguns de nós espera que tudo caía do céu, mas entendam que nem a chuva cai do céu só porque precisamos. Eles (O Estado) não nos darão nada de mão beijada.

Nós do projeto somos totalmente contra a vitimização das pessoas da favela, isso nunca levará ninguém a lugar algum, pelo contrário só as atrapalhará. Uma coisa que nos intrigou foi: Ao final chegou a vez do prefeito falar. Claro ele discursou sobre o que estava fazendo na cidade; em certo momento citou o projeto com os dependentes químicos. Após alguma de suas falas uma jovem o interrompeu e condenou a ação da polícia perante os usuários e defendeu também os traficantes, dizendo que eles não passavam de vítimas; causando uma grande revolta no prefeito que disse que não defenderia aqueles filhas-da-puta (traficantes) e que eles deveriam sim ser presos e punidos, pois estam destruindo vidas.
Outra coisa que nos intrigou: O prefeito admitiu que estávamos em uma das áreas de maior atraso de São Paulo. Então por que ele e sua equipe não olham mais para cá? São Paulo não é apenas o Centro, a AV. Paulista e os bairros ricos. É também o Capão, o Jd Ibirapuera, Pq. Santo Antônio, Jd. São Luís, etc. Todos fazem parte da cidade e todos merecem o mesmo tratamento.
A revolta, o cansaço de tantas humilhações e injustiças eram tão grandes que as pessoas estavam reclamando para a pessoa errada, mas elas precisavam muito desabafar para alguém. Quem deveria estar ali era o Governador, o Secretário de segurança pública e o representante do Ministério Público. O calor causado pela violência tomava conta do momento, e as pessoas esqueceram de cobrar aquilo que era dever do prefeito.
Relatos emocionantes tomaram a reunião, muitas mães, pais e amigos, choraram e exclamaram a tristeza de terem perdido tantos entes queridos. A maioria das mortes causadas pela violência da Polícia Militar. Casos de implantação de provas nos jovens, desova de cadáveres, desaparecimentos, arbitrariedade policial, violência desnecessária e muitos assassinatos de jovens que tinham toda uma vida pela frente. Foi triste demais ver tantas mães até hoje lutando por justiça e mais triste ainda era ver as pessoas se humilhando para pedir o que é delas por direito; a justiça e a igualdade perante a lei.
O Comitê Juventude e Resistência serviu para nos mostrar que a favela permanece sangrando demais, que o poder público quase nada faz para reverter essa situação, não fazem porque não querem. E que as pessoas estão exaustas disto tudo. Uma hora a bomba vai explodir.
Frases marcantes:
“Os jovens da periferia querem e precisam de uma oportunidade de emprego”.
“Preto, pobre e periférico é parado na empresa e tem que entrar pelo elevador de serviço”.
“Pobre não tem oportunidade”.
"A violência pela polícia é demais”!
“O que eu fiz”? (Perguntou uma senhora que estava prestes a ser despejada de sua casa por uma reivindicação do terreno invadido).
“Aonde nos encontramos temos muita crise de identidade”.
“Ou eu me matava para ser jogador de futebol, ou ia virar vendedor na biqueira do lado de casa”.
“ESTAMOS EM UM LUGAR ONDE ESTÃO NOS JOGANDO UNS CONTRA OS OUTROS”
“Estamos aqui implorando por algo que já é nosso”!
“EU SOU PERIFERICA COM MUITO ORGULHO”!
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