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Um capão em eterna resistência!

  • Gustavo Tomaz
  • 7 de jul. de 2015
  • 3 min de leitura

O perfil de uma gente e um lugar

Capão Redondo, um lugar lotado de contrapontos. Diferente de qualquer outro lugar que já conheci, tem uma característica principal: abrigar de tudo um pouco. Em um mês andando pelo bairro traçamos um perfil deste lugar e seus habitantes. Desde os barracos de madeira e a falta de saneamento básico até enormes casarões de classe média, um local onde o atraso e os pequenos passos do desenvolvimento andam juntos.

Com uma bela diversidade cultural, comercial, política e religiosa. Este bairro consegue deter dentro de si várias faces de uma São Paulo que poucos conhecem e muitos querem esconder.

Está no ranking como o 2º bairro mais perigoso de São Paulo segundo a revista EXAME, mas percursor como um dos bairros periféricos mais culturais da cidade. Aqui rola de tudo, bailes funk, black, rodas de samba, capoeira, teatro, saraus, forró, debates públicos, etc.

Porém o que mais me admira aqui são as pessoas. Gente de tudo que é jeito, raça, crédulo; uma miscigenação incrível.

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Como tudo começou

O nome Capão Redondo vem do Tupi e se escreve Caapuã que significa “ilha de mato”. O lugar recebeu este nome porque abrigava antigamente uma área de vegetação muito grande, coisa que hoje faz muita falta.

O bairro começou a se formar com a chegada dos Adventistas saídos da Vila de Santo Amaro, que começaram a habitar as terras na missão de conseguir mais adeptos a sua religião em um processo de evangelização, principalmente de índios e negros que já habitavam o local, assim se disseminaram e começaram a construção do atual bairro com mais ou menos 15 habitantes na época.

O lugar que conhecemos hoje é fruto da desenfreada vinda de imigrantes principalmente das regiões Norte e Nordeste para São Paulo nos anos 50 e 60, que chegando aqui não tinham como se sustentar nos grandes centros, então pelo custo de vida mais barato começaram a construir ilegalmente suas casas na periferia. Sofrendo até hoje as consequências de abandono imposto pelo Estado. Foram muitas as lutas, e ainda são, para que conseguíssemos o pouco que temos. A luta pela legalização dos terrenos, urbanização do local com a vinda do asfalto, do saneamento, da luz, da saúde, da educação e do transporte. Avançamos muito, mas infelizmente ainda vivemos muitas situações de atraso e marginalização. Admiro a superação das pessoas que aqui foram postas como lixo descartável, sem um mínimo de dó porque não tinham condição de habitar os bairros nobres e o centro.

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O hoje

Soubemos contornar tudo isso e hoje podemos nos orgulhar do lugar onde moramos. O que eu mais ouvi durante esse último mês não foi a reclamação da violência, não foi a vergonha por morar ao lado do esgoto a céu aberto, não foi o medo que as pessoas têm da polícia. Foi sim o orgulho por aqui morar, o dizer de ser feliz neste lugar, o amor pelos vizinhos e amigos, a felicidade de ver uma criança que cresceu e deu voz a um velho amigo.

Sabe qual foi o único apelo dos moradores do Capão Redondo (Da periferia em si)?

Eles pedem um sinal de trânsito na Av. Agostinho Rubim para evitar mais acidentes, eles pedem mais transporte para se locomover pela São Paulo que também é deles, eles pedem a canalização do esgoto, eles pedem liberalização para poderem armar suas barracas e trabalharem, eles pedem pelo amor de Deus mais aparelhos culturais, além de escolas e creches pelos bairros da favela onde moram, eles pedem mais verde, eles pedem segurança e não repressão por serem negros pobres e favelados, eles pedem saneamento básico, eles pedem uma casa para morar. Eles pedem respeito!

Atualmente somos 268.280 segundo dados de 2007 da prefeitura. Com toda certeza esse número aumentou.

Coloquei em cada palavra escrita neste post o sentimento que a mim e a meus amigos foi relatado por alguma pessoa do Capão, seus anseios e opiniões. Escrevi pensando em cada ser humano que aqui vive, que não param de lutar e mesmo tendo muitos motivos para abaixarem as cabeças vivem sempre tentando manter um sorriso no rosto.

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